Nos dias de hoje, compreender a dinâmica dos relacionamentos é essencial para qualquer pessoa que busca um crescimento pessoal saudável e relações mais satisfatórias. Seja você alguém que busca melhorar sua vida amorosa, fortalecer suas amizades, ou apenas interessado em autoajuda, entender o conceito de co-dependência pode ser transformador.
Um relacionamento de co-dependência é aquele em que as necessidades emocionais não resolvidas de uma pessoa encontram ressonância nas inseguranças e vulnerabilidades da outra. O caminho que leva da co-dependência a um amor consciente começa com a conscientização de como nossa criança interior ferida se comporta nos relacionamentos.
Quando nos conectamos intimamente com outra pessoa—seja em um relacionamento amoroso, amizade, ambiente de trabalho, ou com membros da família—essas dinâmicas entram em ação. Nossa missão é sair da co-dependência e nos tornar conscientes dessas interações.
Todos os nossos relacionamentos são a arena mais poderosa para a nossa criança interior se manifestar. Carregamos dentro de nós expectativas e necessidades inconscientes não satisfeitas que emergem em nossos relacionamentos. A criança ferida é uma metáfora para os espaços de insegurança, desconfiança, medo e vergonha que carregamos, mesmo na vida adulta.
No estado de consciência da criança interior ferida, ela:
– Não pode amar;
– Não consegue estar no presente e assimilar experiências;
– Não sabe esperar;
– Não pode adiar gratificação e prazer;
– Não encontra dentro de si espaço para sentir dor e desconforto.
Podemos imaginar que essa criança se senta dentro de cada um de nós cheia de pensamentos automáticos e poderosos, sentimentos e comportamentos que, muitas vezes, parecem irracionais e imprevisíveis. Eles não são. É possível decodificar exatamente como a nossa criança ferida se relaciona.
Dinâmicas de Relacionamentos de Co-Dependência
Uma das raízes das nossas dinâmicas de relacionamentos está na ferida de abandono e de sufocamento que se apresentam em nossos relacionamentos íntimos. Cada um de nós carrega dentro de si ambas as feridas, mas, devido às experiências particulares de infância, habitualmente nos identificamos mais com uma que com outra. Assim, criamos relacionamentos nos quais refletimos um no outro, nossas feridas de abandono e de sufocamento. Dinâmicas de relacionamentos de co-dependência são profundamente inconscientes, familiares, habituais e automáticas. A maioria das pessoas pensa, sente e age a partir desse lugar durante toda a sua vida e não conhece outro estado.
Ferida do Abandono – Modo Dependente
Devido à ferida do abandono, temos fome de proximidade para preencher o vazio de uma criança que teve uma experiência profundamente arraigada de não ser querida, não ser amada, não ser vista e não ser apoiada. O único jeito que conhecemos para preencher essa ferida é sendo amados e apoiados por outra pessoa. A nossa fome insaciável e o pânico de não conseguirmos satisfazer nossas necessidades, muitas vezes, afastam o verdadeiro amor que tanto ansiamos.
Nesse modo, cultivamos um dom para partilhar amor, por se derreter com o outro, mas ele é contaminado por um desespero que se encontra por baixo disso, parcialmente devido a uma falta de autoconfiança. Quando o nosso abandono é forte, podemos ter negado e nunca explorado nossa habilidade de ser nutrido na solitude e perseguir objetivos. Acreditamos que o único jeito de encontrar felicidade é ficando próximo dos outros e de uma pessoa em particular. No relacionamento, nos sentimos sempre frustrados, reclamando e culpando o outro por nunca estar disponível. Podemos tentar todo tipo de estratégias para conseguir que o outro esteja lá, mas elas apenas se deparam com rejeição e conflito.
Ferida do Sufocamento – Modo Anti-Dependente
Quando estamos na ferida do sufocamento, tememos a proximidade porque ela representa sermos controlados, manipulados e exigidos. Pode ser assim que o “amor” tenha chegado até nós quando crianças. Intimidade significa perda de liberdade. Enquanto ansiamos por proximidade, estamos cheios de desconfiança e não temos conhecimento do que a intimidade real pode ser.
Podemos entrar em um relacionamento procurando amor, mas a nossa fonte primária de nutrição, a única nutrição que alguma vez conhecemos, é estar sozinho, de alguma forma – quer seja na natureza, em meditação, na criatividade, ou em todas elas. Quando temos uma forte ferida de sufocamento, podemos ter cultivado a habilidade de nos nutrirmos na solidão, de focar energia e seguir um caminho, talvez até desejamos silêncio interior. Mas, muitas vezes, isso é contaminado pelo nosso medo de proximidade – uma reação à nossa experiência anterior onde o único modo de receber amor é estar sozinho.
Uma vez em um relacionamento, rapidamente nos tornamos obcecados em querer mais “espaço” – sentindo perpetuamente que algo está sendo demandado ou esperado de nós. O lado sombrio, uma parte que é negada, é uma criança profundamente carente e abandonada, e é esse lado que o anti-dependente atrai como amante.
Como Podemos Nos Curar?
Nos relacionamentos íntimos, podemos alternar entre ser o “dependente” e o “anti-dependente”. Se olharmos com atenção, podemos ver que essa dinâmica, na realidade, acontece em todos os nossos relacionamentos íntimos, não apenas com parceiros amorosos. Alguns podem ativar nossa ferida de abandono, outros a nossa ferida de sufocamento. Quando estamos relacionando com alguém, ajuda a perceber como e em que situações essas duas partes estão sendo ativadas.
Por fim, para curar, é importante perceber que temos ambas as feridas dentro de nós, mesmo que uma seja mais forte do que a outra. Assim que nos apoderarmos e sentirmos cada ferida, não teremos mais a necessidade de agir assim em nossos relacionamentos.